Eu sempre achei a percepção que a gente tem da passagem do tempo muito curiosa. Tem dias e semanas que demoram muito pra passar e outros que passam muito rápido. Quando a gente se dá por conta, mais um ano passou e “a gente nem viu". Ao mesmo tempo que a gente se espanta por já ser outubro, achamos que é muito tempo ter que esperar um ano para obter algum resultado de algo que fazemos. Você consegue se lembrar o que estava fazendo nessa mesma época no passado? Mesmo que eu não te conheça, tenho certeza de que pelo menos uma coisa já não é mais como era antes e se a mudança não foi por escolha sua, certamente foi porque algo ou alguém ao redor de você mudou, afinal é o ciclo natural do ser humano.
Eu tenho uma teoria de que o tempo passa mais devagar pra quem espera. Na fila, na parada de ônibus, por uma ligação, por uma resposta. Já se você estiver em movimento, o tempo vai passar muito rápido. No caixa, dirigindo o ônibus, ligando para alguém ou avaliando a situação para dar uma resposta.
Talvez seja essa ânsia por um retorno rápido que faz com que às vezes a gente nem comece. Eu sei que é difícil fazer algo quando a gente não sabe muito bem aonde uma escolha pode nos levar ou quais vão ser os resultados e consequências a longo prazo, mas quando olho pra trás, vejo inúmeras oportunidades que só apareceram na minha carreira e vida porque meses ou anos antes eu fiz escolhas como ir em algum evento de tecnologia, começar a estudar algo novo, ler algum livro, começar faculdade ou de conversar com algum colega ou amigo.
A zona de conforto não teria esse nome se não existisse um lado agradável em parmenecer nela, já que é conhecido e fácil. Mudar da medo e começar algo novo vai ser frustante no início. O que a gente não se da conta é que a maior parte do nosso medo vem de pensamentos de possibilidades que nunca vão acontecer, enquanto a frustração, faz parte do processo. E quando ela chegar, você pode decidir que aquilo não é pra você, ou tentar de um jeito diferente.
Um ano atrás
A um pouco mais de um ano atrás eu estava com uma dor chatíssima no joelho esquerdo e depois de alguns exames e dois ortopedistas descobri que tenho uma doença degenerativa na patela, causada pela prática de exercícios físicos de alto impacto sem fortalecimento muscular. Eu amo praticar exercícios físicos, muito, porém, contudo, todavia, nunca tive paciência de fazer musculação, minhas tentativas de ir à academia sempre falharam, só que agora eu não tinha muitas opções, ou eu começava a fortalecer ou teria que parar de praticar meus hobbies favoritos.
Quando recebi o diagnóstico eu fiquei bem chateada e preocupada de que não poderia continuar fazendo as coisas que tanto gosto. Conversando com algumas pessoas sobre minhas frustrações fiquei um pouco mais tranquila e comecei a frequentar a academia. Deveria fazer uns 10 anos desde a última vez que eu tinha pisado em uma e para a minha surpresa, eu não achava mais tão tedioso assim fazer as séries e repetições.
Tenha um bom porquê
Na minha cabeça tenho algumas teorias de porque eu mudei minha percepção, as mais prováveis são que agora eu tinha um bom porquê para fazer aquelas repetições e obviamente estava muito mais madura, paciente e com mais tempo livre que antigamente. No passado eu ia na academia e ficava pensando nos trabalhos do curso técnico que eu poderia estar fazendo enquanto estava lá fazendo 3x15 em algum aparelho qualquer sem entender a necessidade. Claramente não era a minha prioridade naquele momento e não acho que deva me culpar por isso também. Às vezes a gente faz o que dá.
Virando hábito
Passados mais de doze meses de treinos eu me viciei em ir a academia. Sei disso porque sinto muita falta se não vou. Óbvio que tem dias que bate a preguiça, principalmente nos dias de frio e chuva, mas sempre que vou, volto pra casa me sentindo melhor e uso isso como gatilho pra colocar o tênis e ir. Um antigo líder meu gostava de dizer o quão ter disciplina era mais importante que ter motivação. Na época eu já concordava com ele, sabia que ele tinha razão, só que hoje eu percebo os efeitos disso no meu dia a dia.
Inclusive, você já deve ter ouvido a famosa teoria do cirurgião plástico Maxwell Maltz, que diz que precisamos realizar uma atividade nova por pelo menos 21 dias consecutivos para começar a criar um hábito e mantê-la por pelo menos 90 dias para que ela se torne parte automática de nosso cotidiano. A exatidão desses números são questionadas até hoje, e não acho que nós devemos nos prender a isso e sim ao fato de que a repetição é uma ferramenta poderosa no aprimoramento das nossas capacidades.
Inclusive, ela é muito incentivamente e utilizada durante o processo de aprendizagem. Existem diversos estudos sobre o que acontece com nosso cérebro e nossas emoções enquanto aprendemos algo. Várias técnicas foram desenvolvidas a partir desses estudos. Eu fui entender um pouco melhor quando fiz um curso chamado “Aprendendo a aprender: poderosas ferramentas mentais para ajudá-lo no domínio de temas difíceis", e a repetição é citada como uma ferramenta fundamental para que temas complexos sejam compreendidos de forma mais fácil. Se quiser saber mais, já clica aqui.
A vantagem de ter começado
A uns dois, três meses atrás eu tive coragem de voltar a correr e para criar um comprometimento maior e não desistir na primeira semana, me increvi em uma corrida de rua de 5 quilômetros, antes mesmo de correr os primeiros 100 metros. Como eu ainda estava com medo de me lesionar novamente eu resolvi usar uma tática de treino progressivo. Comecei com uma meta nada ambiciosa: correr 1km. Além de treinar meu físico eu precisar treinar o meu mental para correr aquela distância. Então quando eu percebi que eu não ia me machucar, eu fui aumentando a distância na rua e o tempo na esteira semana a semana. Tive aproximadamente 2 meses e meio para me preparar, então se eu fizesse o que tinha planejado direitinho chegaria lá.
Se você já participou de algum evento parecido com a corrida de rua, entende a vibração que se sente ao participar de algo nessa vibe. Além de ser sempre muito animado, a grande maioria está ali apenas para competir consigo mesmo, para se divertir ou ser apoio à outras pessoas. Completar uma prova é uma conquista pessoal muito legal. Óbvio que saí dessa prova já me inscrevendo para as próximas.
Depois fiquei pensando o quanto essa experiência tão simples me trouxe tanta alegria. Talvez tenha sido ainda mais especial por ter sido a superação de um medo. Não sei bem, mas não pude evitar o pensamento de o que teria acontecido se eu não tivesse começado o tratamento um ano antes. Voltar a correr nunca teria sido uma possibilidade? Eu estaria sofrendo com mais dores no joelho? Não tenho como saber o que aconteceria, mas fico muito feliz pela Kati do passado que resolveu fazer diferente.
Recentemente comecei a escrever aqui, no universos de coisas. Também resolvi dedicar mais tempo ao hábito da fotografia. Ambas situações muito recentes. Espero poder voltar daqui um ano e perceber todas as coisas que só aconteceram porque comecei elas agora.
Recomendação de hoje
Escreva uma carta para seu eu do futuro
Se o seu eu de um ano atrás tivesse a oportunidade de dizer algo hoje, o que seria? Difícil essa. Então que tal experimentar escrever uma carta para você mesmo daqui um ano? Nos corre do dia a dia tem muita coisa que a gente acaba se esquecendo, principalmente das legais que acontecem. Então tira uns minutinhos, coloca uma música boa e escreva para você mesmo :)
Que texto incrível, Kati! Ele falou comigo de tantas formas diferentes e me inspirou a continuar a me desafiar e aprender, um pouquinho de cada vez!
Também é ótimo sentir sua evolução com a escrita! Cada texto melhor que o último!
Amei. Está cada vez melhor e mais gostosa de ler. Fiquei pensando aqui sobre a questão da disciplina ser mais importante que motivação. Bem interessante!